segunda-feira, 21 de março de 2011

Dia da Poesia

O amor, quando re revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.


Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...


Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!


Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer o que sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!


Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa


É um dos meu preferidos de sempre, daqueles que sei de cor. Para mim é uma preciosidade, um achado que não me saltou dos livros da escola, antes me saltou aos olhos numa parede interior da Olmar. Não me canso de o ler assim escrito numa parede, em letra bonita, nem deixo de me deslumbrar de cada vez que vejo coisas simples escritas com mestria.

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